E o
teu olhar daltônico
não
aceita a cor do relvado
que
vibra tanto vermelho,
em
tons de vermelho,
gritantes.
Mudamos
para Bad Ischl
e
aquele rio
e
as águas daquele rio ficam
entorpecendo
os nossos ouvidos
com as miniorquestras
que
se movem ao sabor dos doces
em
cada café
de
cada esquina.
E
tudo é alto,
tudo
é azul.
Os
olhares, o céu,
o
rio.
Fica
monótono.
E o
teu olhar daltônico
não
aceita ver a neve
nos
picos que sobem
e
se mostram fálicos.
Mudamos
para a Grécia
e o
teu olhar daltônico
não
aprecia a sujeira
daquela
Atenas
que
tão somente apenas
desgraça
aquele berço.
Mudamos
para o Mar Egeu
e o
teu olhar daltônico
não
nada,
não
mergulha,
não
se entrega.
Quer
só areia,
quer
só sol,
quer
só ficar em terra.
Enterra.
E
tudo vamos de trem,
de
carro, de ônibus,
a
pé.
Porque
o teu olhar daltônico
não
voa,
não
perdoa.
Se
prende, é fixo,
é
triste.
Omite
os parágrafos escritos
pelo
caminho.
O
teu olhar daltônico acha
que
tudo é fate.
Eu
olho para ti
e
talvez sejas fake.
Mas
eu sigo ao teu lado.
Meu
corpo tão acostumado
já
te pertence.
O
teu olhar daltônico
me
encanta
porque
sinto tua mão
espalmada
contra
a incertezas da vida,
e
isso me acalma.
Mas
você
não
me alimenta
a
alma;
você
transfere,
você
não vive; sobrevive,
porque
o teu olhar daltônico
não
fere.
Ele
só navega, assim,
pacífico,
lânguido,
despojado.
Como
que não se importasse
porque
sabe que é amado.
Mas
disso que recebe
não
retribui.
Talvez,
porque
o teu
olhar
daltônico
te
obstrui.
E
mudamos para Shangri-la
num
horizonte perdido
de
Hilton.
Onde
a única coisa
que
eu quero
é
descascar tua pele
e
colocar para secar.
Ficar
com aquele sabor
fumado,
ressecado.
Para
ver se o teu
olhar
daltônico
se
anima.
Para
ver se você,
finalmente,
pode
olhar,
não
de cima,
mas
igual.
Para
ver se o teu
olhar
daltônico
finalmente
pode
virar
monocromático
e
animal.
Mas
não,
esquece,
deixa
como está.
Fica
assim.
olhar
daltônico,
se
eu me vestir,
se
eu me pintar,
se
eu me ferir
de
verde,
repara
em mim.
Quem
sabe,
se
eu me tingir
de
vermelho,
o
teu olhar daltônico
repara
em ti.