Logo no
início de 2008 quando voltei para Portugal fui jantar num restaurante no Porto,
A Máscara, especializado em fondue, com o meu namorado na época, um cara que eu
conheci no início dos anos 90. Comemos um de queijo e, quando fomos comer o de
chocolate de sobremesa, ele chamou minha atenção, bravo, dizendo que a maneira como eu
comia era muito sensual. "Acho que isso não vai resultar", pensei.
Dito e feito.
E sim, eu
como de uma maneira sensual, não foi a primeira vez que alguém comentou isso,
mas nunca fiz de propósito. Aprendi a usar todos os talheres à francesa quando
tinha treze anos, com o namorado austríaco da minha mãe, mas não lembro ao
certo quantos anos tinha quando aprendi a comer -- e, pelo que eu saiba, devo
comer igual desde então.
Idiossincrasias,
detalhes, peculiaridades, traços característicos, singularidades -- tudo aquilo
que faz com que, apesar de sermos todos iguais, sejamos todos diferentes. O
tempero especial de cada pessoa, inerente ou adquirido.
O nosso
corpo também é assim. Ao longo da vida vamos adquirindo traços que passam a ser
parte do que somos, como somos, quem somos. É inseparável. Quando separa,
deixamos de existir, fisicamente.
Eu, por
exemplo, entre muitas outras, de acidente de moto inclusive, tenho marcas da
minha gravidez -- as famosas estrias. São minhas e ninguém tira.
Existem
muitas pessoas e grupos que atacam verbal e psicologicamente o corpo de outras
pessoas pelo simples fato de ser diferente do que elas consideram 'adequado'.
Uma coisa é
promover a saúde e o bem-estar através do exercício físico; outra é ofender,
atacar, escarnecer e minimizar uma pessoa pelas marcas que ela
tem, inatas ou que foram adquiridas ao longo da vida, que compõem sua harmonia
física e mental e a transformam num ser humano único que tem o direito de ser
respeitado, pois são essas mesmas marcas, corporais e intelectuais, que
promovem o amor -- e que eventualmente, às vezes, fazem com que as pessoas se
apaixonem.
O
preconceito não é silencioso, prejudica, e mata. Existem pessoas que não conseguem
lidar com esses ataques. Têm depressão e podem inclusive se suicidar ou morrer
tentando alcançar um 'padrão' inalcançável.
Excetuando
os óbvios 'não mate', 'não roube', entre outros, aceite as pessoas como elas
são. Ninguém tem o direito de exigir que uma pessoa mude, física ou
mentalmente.
Respeito é
bom. Antes de exercitar o corpo, exercite a alma.
Paz.