quarta-feira, 15 de julho de 2015

marcas

Logo no início de 2008 quando voltei para Portugal fui jantar num restaurante no Porto, A Máscara, especializado em fondue, com o meu namorado na época, um cara que eu conheci no início dos anos 90. Comemos um de queijo e, quando fomos comer o de chocolate de sobremesa, ele chamou minha atenção, bravo, dizendo que a maneira como eu comia era muito sensual. "Acho que isso não vai resultar", pensei. Dito e feito.

E sim, eu como de uma maneira sensual, não foi a primeira vez que alguém comentou isso, mas nunca fiz de propósito. Aprendi a usar todos os talheres à francesa quando tinha treze anos, com o namorado austríaco da minha mãe, mas não lembro ao certo quantos anos tinha quando aprendi a comer -- e, pelo que eu saiba, devo comer igual desde então.

Idiossincrasias, detalhes, peculiaridades, traços característicos, singularidades -- tudo aquilo que faz com que, apesar de sermos todos iguais, sejamos todos diferentes. O tempero especial de cada pessoa, inerente ou adquirido.

O nosso corpo também é assim. Ao longo da vida vamos adquirindo traços que passam a ser parte do que somos, como somos, quem somos. É inseparável. Quando separa, deixamos de existir, fisicamente.

Eu, por exemplo, entre muitas outras, de acidente de moto inclusive, tenho marcas da minha gravidez -- as famosas estrias. São minhas e ninguém tira.


Existem muitas pessoas e grupos que atacam verbal e psicologicamente o corpo de outras pessoas pelo simples fato de ser diferente do que elas consideram 'adequado'.

Uma coisa é promover a saúde e o bem-estar através do exercício físico; outra é ofender, atacar, escarnecer e minimizar uma pessoa pelas marcas que ela tem, inatas ou que foram adquiridas ao longo da vida, que compõem sua harmonia física e mental e a transformam num ser humano único que tem o direito de ser respeitado, pois são essas mesmas marcas, corporais e intelectuais, que promovem o amor -- e que eventualmente, às vezes, fazem com que as pessoas se apaixonem.

O preconceito não é silencioso, prejudica, e mata. Existem pessoas que não conseguem lidar com esses ataques. Têm depressão e podem inclusive se suicidar ou morrer tentando alcançar um 'padrão' inalcançável.

Excetuando os óbvios 'não mate', 'não roube', entre outros, aceite as pessoas como elas são. Ninguém tem o direito de exigir que uma pessoa mude, física ou mentalmente.

Respeito é bom. Antes de exercitar o corpo, exercite a alma.


Paz.