quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Há muito tempo expressei meu descontentamento sobre o novo acordo ortográfico globalizado. E continuo pensando do mesmo jeito: inadmissível. Repito o que disse antes:
"mudar um idioma é querer mudar a história de um povo. é imiscuir nas memórias, desdizer um passado. é gritar que não há mortes e fomes importantes, mas que importa como escrevê-las. é simplesmente inaceitável. escrevo a nova versão de palavras no meu idioma, mas não aceito que a ortografia seja globalizada. não se globaliza a escrita que declama a história da vida de uma nação. e tenho dito."

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Não às notícias

Não gosto de ver ou ler notícias. Tenho uma ideia bem clara de como o mundo anda. Não preciso saber da fome, ela continua no mesmo lugar que estava há 20 anos e está alastrando cada vez mais. Não preciso saber das mortes, elas ocorrem a cada segundo e são todas excruciantes. Não preciso saber dos maus tratos contra todas as espécies, o que já vi até hoje reclama minha memória e minhas lágrimas diariamente. Não preciso ver a dor alheia para tentar colaborar, como posso -- e devo -- para seu término. Não preciso ver desgraças para saber que sou abençoada, e para agradecer por isto a cada instante. Não preciso de nada além de Deus, porque a graça d'Ele me basta, e é abundante, muito mais do que eu algum dia poderia merecer. Não preciso das tristezas do mundo para manter os pés no chão, quando tenho consciência, responsabilidade, respeito, amor -- e um filho que me ensina a ser melhor todos os dias.


domingo, 19 de janeiro de 2014

Van Gogh e orelhas

Então Van Gogh ficou famoso por suas pinturas, mas quase sempre que fala-se dele alguém menciona "sem orelha".

O cara não tem orelha e é famoso.

Mas quem nasce sem orelha ou perde a orelha é asqueroso?

É diferente?

É "defeituoso"?

Se você pensa assim, você tem problemas.

Problemas muito piores do que achar que alguém é diferente só porque não tem alguma coisa.

Bom domingo!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Duas visões

Visão do egoísta
Quem não sabe se vestir deveria ficar pelado.

Quem não sabe ser educado deveria ficar trancado.
Quem não sabe comer com talheres deveria ficar isolado.
Quem não sabe andar deveria ficar sentado.
Quem não sabe nadar deveria morrer afogado.
Quem não sabe falar deveria ficar calado.
Quem não sabe dirigir deveria ficar parado.

Visão do altruísta
Quem não sabe ensinar deveria aprender.
Quem não sabe compartilhar deveria receber.
Quem não sabe apreciar deveria ver.
Quem não sabe ver deveria sentir.
Quem não sabe sentir deveria viver.
Quem não sabe viver deveria amar.
Quem não sabe amar deveria ser amado.

Serra da Freita

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Somos todos diferentes, mas todos somos iguais.

Nada justifica o abuso, o estupro ou qualquer outra forma de violência contra qualquer ser humano que esteja vivendo tranquilamente sua vida, sem afetar negativamente a vida de outras pessoas.

Em termos de retribuição, ou seja, se alguém faz algo errado, precisa sofrer as consequências (legais, sociais, etc.). Mas, fora isto, absolutamente nada justifica qualquer tipo de violência.

Conheço mulheres que passaram anos sendo abusadas pelos maridos, apanhando diariamente.

Tem gente que pergunta, "Como é que consegue ficar? Se fica é porque gosta, ou então já tinha ido embora."

Não é assim, não. Não gosta, não. Sim, existem sado e masoquistas, mas isto é outra história. O tópico aqui é a violência gratuita indesejável e inaceitável.

Fica, por quê? Esta pergunta tem diversas variáveis. Por medo. Por dependência. Pelos filhos. Por uma série de coisas. Mas isto não é importante. O que importa é que, novamente, nada justifica a violência.

Algumas conseguem fugir, e jamais voltam a ser pessoas funcionais. Outras conseguem fugir e vencem, mas não conseguem mais se relacionar. E outras conseguem renovar a vida, recomeçar.

Eu sei que alguns homens também sofrem deste tipo de situação, mas o número é exponencialmente inferior -- de qualquer jeito, também nada justifica "este tipo" de violência, física, mental, verbal, contra uma pessoa que confiou em outra ao ponto de viver junto e está sendo traída -- e que às vezes chega a afetar a prole.

Enfatizo "este tipo" de violência, porque existem muitos tipos de violência.

Tem um início. Acredito que somos resultado do ambiente onde vivemos e das escolhas que fazemos.

O "ambiente onde vivemos" é extremamente amplo. Pode incluir família, vizinhos, escola. Pode ser ridiculamente mínimo, como um orfanato, onde torna-se enorme devido à multiplicidade de pessoas que trabalham nele e passam a ser, por um breve período ou longos anos, a família, os vizinhos e a escola de uma pessoa.

As escolhas que fazemos podem ser influenciadas por diversos fatores existentes no ambiente onde vivemos -- ou não. É possível ocorrer a abstração completa de um ecossistema e tornar-se autossuficiente.

Tem-se tornado popular a ideia de "não basta ensinar as filhas como se vestir ou se portar, é necessário ensinar os filhos como respeitar".

<<É necessário educar corretamente cada ser humano.>>

Sendo que o "corretamente" varia muito, mas considero o senso comum da matéria: não à violência, não à discriminação, sim à paz, sim à diversidade.

Nisto já é possível "ler":
- Não ataque
- Não mate
- Não minta
- Não engane
- Não siga a turba ignara
- Não controle a vida alheia
- Não julgue
- Promova a felicidade
- Cuide da sua vida
- Lute pela verdade
- Compartilhe
- Sorria
- Ajude
- Viva
- Ame

E denuncie. Mesmo que seja anonimamente, denuncie.



domingo, 12 de janeiro de 2014

Tell me something new

Quer agradar todas as pessoas? Pode tentar virar um aquecedor no inverno e um ventilador no verão e mesmo assim é bem provável que não alcance a sua meta.

Alguém vai querer que você seja um aquecedor alimentado por módulos solares fotovoltaicos e outra pessoa vai querer que você seja um ventilador de teto.

Apenas ser o que se é basta. É possível adicionar um pouco de tentativas de autossuperação, mas não é um requisito.

Também basta expressar o seu ponto de vista para encontrar muitas pessoas que vão realmente achar que você está falando diretamente com elas.

Chove lá fora e aqui está tão quentinho!! :)


sábado, 11 de janeiro de 2014

O busílis da questão

Quando eu era criança, nos meus 6-7 anos, lembro do meu avô descascar uva verde, dividir no meio, tirar a semente -- uma quantidade equivalente a um prato de sopa fundo -- e eu sentava no colo dele e ele dava na minha boca.

Lembro da minha avó fazer brigadeiro, um prato cheio deles, e colocar do lado da minha cama antes de eu dormir.

Lembro de ter 11 anos e pesar 112 quilos.

Mas não lembro de piadas das outras crianças com relação ao peso. Lembro uma vez de ter insistido em fazer permanente e ai sim, foi uma piada atrás da outra, porque realmente ficou horrível -- mas eu já cheguei dizendo que estava horrível.

Será que sofri daquilo que hoje chamam bullying por ser gorda e não lembro porque foi ruim?

Um aparte: na minha época não lembro de nome para o atual bullying. Lembro de pais mandando @ filh@ calar a boca ou dando um tapão na bunda quando falava alguma coisa que não devia, quando apontava para alguém na rua, quando não dava lugar para pessoas mais velhas, quando ria de alguém por qualquer motivo.

Honestamente, não lembro de ter sofrido disto. Eu ia para a praia direto da escola -- eu morava em Santos/SP/BR -- de biquíni que vestia por baixo do uniforme. Estudei no Stella Maris, no São José, no Carmo e a pior coisa que lembro foi ter levado um sanduíche em pão tipo pullman com pimenta malagueta verde temperada com sal e azeite que meu avô fazia e um menino ter pedido um pedaço e, depois de eu avisar, ele deu uma mordida e quase desmaiou.

Eu fazia teatro -- fiz até o antigo colegial -- interpretando Shakespeare -- inclusive escrevi uma paródia de Hamlet, "Omelete".

Lembro também de um rapaz pelo qual tive uma paixoneta e ele gostava de uma outra moça bem mais velha que eu, que por acaso era mais gorda que eu.

Lembro de ser chamada de "c* de ferro", porque gostava de estudar, tirava boas notas e era a queridinha dos professores.

Mas intimidação por ser gorda, não lembro. 

Não lembro de ter reclamado de uma situação deste gênero para os meus avós (que me criaram), nem lembro de ter provocado algum tipo de situação indesejável que tenha feito com que um professor mandasse um outro aluno para a Diretoria -- pelo contrário, eu fui para a Diretoria algumas vezes, por tocar o alarme antes da hora, trancar todas as portas de todos os banheiros e jogar as chaves fora, e mais algumas coisas.

Logo antes de engravidar eu estava com 62 quilos, 25 anos e 1,72 cm e logo depois que fiquei grávida, uns 3 meses, fui a uma festa e ai sim, teve um indivíduo falou "Está grávida ou é gorda mesmo?" -- e lembro como se fosse hoje o que respondi: "E você, é feio, burro, tudo junto, nasceu assim ou mamãe que deu as instruções?".

Então realmente não devo ter passado por qualquer tipo de intimidação quando era criança, acho que lembraria.

A minha família é grande, somos todos grandes, com exceção da minha mãe/avó/prima, o resto, de ambos os lados, tudo grande.

Ossos grandes, estatura elevada, vozeirão (eu sou tenor), ombros, coxas e quadris largos, pés grandes.

É a minha assinatura, é o meu ADN. Sou grande, sempre fui. Mesmo com 62 quilos eu era grande, jamais usei calça menor do que 42: quadril muito largo.

Este é o busílis da questão. Ninguém se mete a besta com um mulherão de 1,72 cm com o meu tamanho -- eu sou larga --, então, bullying, não. Mas havia alguns comentários.

"Você tem um rosto tão lindo, já pensou em emagrecer?"

Como é que se compõe a resposta a um comentário (gratuito, diga-se de passagem) destes?

Normalmente eu olho para a pessoa, desenho uma caricatura mental e dou a resposta. A última vez, numa piscina, para uma "senhora", a resposta foi "A senhora tem uma boca tão bonita, já pensou em parar de falar merda?".

Costumo dizer que sou antissocial. Começo a achar que não é verdade. Em 40 minutos outro dia travei conhecimento com um casal super-simpático, que me levou pela cidade a passear, apresentou-me a todos os conhecidos e não tirei um tostão da carteira a noite toda -- além de ter tido a oportunidade de fotografar muitos locais.

Sou anti-ignorantes. Pessoas que realmente acham que a vida se resume a um nada atômico tão generalizado que falam qualquer coisa, sem considerar nada e acham que podem fazer comentários ao seu talante.

Mas é possível aprender muita coisa com pessoas assim. Uma delas, por exemplo, é como divertir-se às custas da incapacidade mental demonstrada.

:)
Escrever sobre o quê? Por quê?

Escrever sobre o que eu quiser. Porque eu gosto.

Há algum tempo, ou melhor, às vezes, tenho vontade de escrever. Vejo coisas, vivo coisas, ouço e dá vontade. Uma vontade que depois acaba passando, por qualquer motivo que seja, nada específico, mas acabo encontrando algo diferente para fazer, surge um trabalho, preciso escovar os cães, lavar louça, fazer comida, fazer compras, conversar com pessoas.

E a escrita fica para trás.

Não sou de resoluções de ano novo, nunca fui. Aliás, acredito piamente que, se você quiser fazer alguma coisa, você faz. Não fica enrolando até o ano novo, até segunda, até amanhã. Você vai e faz, pronto.

Se não fizer, é porque não quer fazer. Claro que o querer tem suas variáveis, mas a base da coisa é, definitivamente, quem quer, faz. Dá um jeito, corre atrás e faz. Do contrário, são apenas desculpas. Um monte delas.

Não gosto de ser hipócrita, então provavelmente não estava escrevendo porque não queria escrever, de verdade verdadeira, porque se eu quisesse, já tinha escrito. Come on, é o que eu faço o dia todo, escrevo e reescrevo e pesquiso, portanto, não tem coisa mais fácil do que escrever mais -- se eu quiser.

Ou seja, não escrevi porque não era para ter escrito.

Agora estou escrevendo, estou a escrever, estou digitando e as palavras estão fervilhando. Sim, na minha mente, e não na barriga.

Eu tenho uma dislexia de nível mínimo. Troco V por F e vice-versa, e quando leio um conjunto de 3 números (por exemplo, 963), normalmente falo com os dois últimos inversos, mas na minha cabeça falei certo. Eu falo 936 mas tenho certeza absoluta que falei 963.

Por isso sou cricri em ver e rever e revisitar e observar novamente palavras e números. Por isso não tenho paciência em fazer revisão, porque quase sempre tem erro e erros tolos, que qualquer um que revisse pelo menos uma vez teria notado.

Eu mudo muito. Gosto de mudar. Nos últimos 25 anos da minha vida mudei de país 5 vezes, de cidade 12, de casa 19. Por isso não compro casa. Quer dizer, este é um dos motivos de eu não comprar casa. 

Ter uma casa não significa nada. Estabilidade? Uma casa não é ser estável. Ser estável é ser estável, com ou sem casa. E não dá para levar uma casa de concreto nas costas.

Se um dia eu achar que uma casa poderá ser usada também para devolver algo à comunidade, um local onde eu possa compartilhar vivências, usar para algum tipo de atividade e também morar, talvez eu compre.

Gosto de falar e escrever sobre tudo. Tudo o que eu gosto. E, às vezes, o que não gosto -- mas apenas para um debate, não para trabalho. Trabalho, apenas com o que gosto.

E agora vou trocar de roupa e ver casas. Já está na hora de ver casas.